Internet sem Web

A internet que tínhamos na universidade era lenta, muito lenta, mas finalmente foi feito um upgrade no link que conectava a UFMG ao resto do mundo. Passamos para um link de 64 kbps, bem melhor que o anterior. Hoje, um celular sem sinal deve ser mais rápido que isso.

Independentemente desse upgrade, comecei um estágio no setor de informática da Faculdade de Letras. O trabalho era simples: ajudar professores e funcionários a usar o Word e resolver pequenos problemas do dia a dia. É claro que levei meus antivírus favoritos e comecei a limpar os computadores, além de aumentar minha coleção de amostras. Cheguei até a dar um mini-curso de antivírus. Como quase ninguém tinha Windows, era tudo na linha de comando do DOS, o que para muitos parecia um bicho de sete cabeças. No fim, preparei uma folha de instruções com os comandos exatamente como deveriam ser digitados. O pessoal só copiava as letras, sem entender muito o que estavam fazendo, mas funcionava.

Esse estágio também me deu acesso ao mainframe da universidade, que estava conectado à rede Bitnet. A gente não sabia fazer muita coisa na Bitnet, mas dava para mandar e-mails e participar de um chat bastante movimentado. Passávamos horas e mais horas teclando com gente de outras universidades, pessoas que nunca tínhamos visto e nunca veríamos de novo.

Se hoje já é difícil imaginar uma internet sem web, tente imaginar uma internet sem Amazon. A Amazon só nasceu em 1994, quando eu já estava no meio do curso. No início, não havia nenhuma facilidade para comprar livros ou acessar material atualizado. Quando era algo disponível online, encontrávamos um jeito. Para o resto, só xerox mesmo. Era comum ver estudantes com pilhas de capítulos copiados porque simplesmente não havia como comprar o livro no Brasil em tempo hábil (e também era muito caro).

Lá pelo final de 1992, o pessoal da universidade descobriu a Book Stacks, uma das primeiras livrarias virtuais, que funcionava por e-mail. O sistema era primitivo, bem artesanal, mas ampliou os nossos horizontes. De repente, tínhamos acesso ao mercado editorial americano. Para quem estudava computação, aquilo era uma maravilha: permitia acompanhar o estado da arte sem depender da boa vontade de uma livraria brasileira importar um único exemplar a preço de ouro ou esperar alguém viajar ao exterior e trazer o livro na bagagem.

O frete era caro, às vezes até mais que o próprio livro. Por outro lado, não havia imposto de importação para livros. Para reduzir custos de frete, a estratégia era juntar um grupo grande e fazer um pedido coletivo. Lembro de ter organizado uma dessas compras: juntei o pessoal, recolhi o dinheiro, encomendei umas vinte cópias e mandei entregar na minha casa. Depois passei dias distribuindo livro por livro entre os colegas. Dava trabalho, mas compensava. Pela primeira vez, tínhamos acesso imediato às novidades mais importantes da nossa área, sem esperar meses por alguém viajar e trazer um exemplar na mala. No meu caso, era um dos primeiros livros sobre a linguagem de programação Java.