TK 3000

1983 — O ano em que fizemos contato

Depois do Commodore, nosso próximo computador foi o brasileiro TK 3000, que eu ganhei de aniversário. Meu aniversário de 15 anos estava chegando e minha avó me perguntou se eu queria ganhar uma viagem para a Disney (o sonho da grande maioria dos adolescentes na época), mas eu respondi que queria ganhar um computador.

Eu e meu irmão fizemos uma pesquisa e concluímos que o melhor era o TK 3000, uma cópia do Apple IIe. Com ele, saímos do mundo Commodore e entramos no universo Apple, o que trazia uma grande vantagem no Brasil da época: muita gente usava clones de Apple, e alguns até tinham o original. Isso significava que havia bastante software circulando, talvez não tanto quanto para o MSX, mas o suficiente para fazer da plataforma Apple uma opção interessante. O computador era expansível, o que o tornava ainda mais interessante: dava pra abrir a máquina e encaixar novas plaquinhas lá dentro, algo que seria comum nos PCs anos depois.

Com o novo computador, tivemos que recomeçar a coleção de programas, já que nada do Commodore funcionava nele. O TK também usava disquetes, ainda daqueles grandes, de 5¼ de polegada. Foi nessa busca por novos jogos e utilitários que descobrimos uma rede de pirataria chamada “Clube dos Applemaníacos”. O clube permitia que os associados trocassem programas: bastava mandar um disquete com algo que eles não tivessem, e em troca vinham outros dois da biblioteca deles. Como a gente não tinha nada para oferecer, começamos comprando alguns programas do acervo. Eles mandavam tudo pelo correio, direto de São Paulo para Belo Horizonte.

O mais divertido eram as capinhas dos disquetes, que vinham com instruções pouco convencionais. Em vez de avisos como “não dobre” ou “mantenha longe de ímãs”, as capinhas dos Applemaníacos diziam coisas como “não dê o disquete para o jacaré comer” ou “não coloque na torradeira”. Um humor meio besteirol bastante atrativo para dois adolescentes.

Com o tempo, o clube facilitou muito nossa vida. Nossa biblioteca de software cresceu, e começamos a conhecer outros amigos que também tinham computadores compatíveis com Apple. Como tínhamos apenas um drive, copiar disquetes era um desafio. Foi assim que descobrimos um programa especializado em fazer cópias, provavelmente obtido na própria biblioteca dos Applemaníacos. O software conseguia copiar quase tudo — só alguns disquetes protegidos resistiam à clonagem.

Enquanto copiava, o programa mostrava na tela detalhes sobre o conteúdo dos disquetes, e foi aí que começamos a aprender sobre faixas, setores e blocos. Era assim que os dados eram armazenados fisicamente, e entender isso abriu as portas para outro tipo de curiosidade: como a informação é realmente estruturada. Aprendemos sobre binário, hexadecimal e outros detalhes de como funcionam os computadores.

O passo seguinte foi descobrir os editores de setores. Esses programas permitiam ler e modificar manualmente o conteúdo de cada setor de um disquete. No começo, não sabíamos muito bem pra que usar isso, mas serviu para nos mostrar um tipo de programa que a gente nem sonhava que existia.

Uma das diferenças mais marcantes entre o Apple e o Commodore, e também uma das que mais nos incomodou na época, era o som. O Commodore tinha um processador de som dedicado e usava o áudio da televisão, enquanto o Apple tinha apenas um alto-falante minúsculo, de som abafado e metálico. Mas o Apple tinha uma vantagem: era fácil expandir. Bastava comprar uma plaquinha extra e encaixar. Fomos adicionando memória de vídeo, melhorias gráficas e, claro, uma placa de som decente. Chegamos a um ponto em que o som já não saía da TV, mas do aparelho de som da casa. Outro nível, outra qualidade.

Lembro de um programa que permitia escrever notas musicais e reproduzi-las no micro-system da sala. Ligávamos o joystick, escrevíamos a melodia na partitura, e o computador tocava a música. Ver aquilo funcionando era quase mágico.

Com o tempo, o Apple foi envelhecendo, e os PCs passaram a dominar o mercado. Aí chegou a hora de trocar…